segunda-feira, 12 de março de 2012


O COTIDIANO DE ARACAJU E AS TRANSFORMAÇÕES NAS DECADAS DE 1930 -1940



  *Adailton dos Santos Andrade

Resumo
O presente trabalho pretende discutir o cotidiano de Aracaju nas décadas de 1930 e de 1940, relatar as transformações que ocorreram  na cidade pós a republica velha no governo de Augusto Maynard Gomes. Na virada da segunda republica quando o Brasil iniciava seu período da era Vargas, em Aracaju capital de Sergipe, vai sofrer profundas mudanças no campo do urbanismo. A expansão da área central da cidade para a zona sul é acelerada com a reforma urbana de Pereira Passos que tinha, entre outros objetivos, entre os anos de 1930 a 1940, por ser uma das primeiras vias da formação urbanística e pela contribuição econômica dada a Aracaju. Para isso, recorremos aos jornais e revistas do início do século XX, sites fotografias e acervo bibliográfico. Utilizamos também os relatos escritos por , Murillo Melins (2001) Frúgoli Júnior (2007), Rio (1997), Vilar (2006), Mário Cabral (2002), Maria Nele dos Santos (2000), Naide Barboza (1992), dentre outros, para mostrar a vivência de ruas da cidade de Aracaju.







Introdução
Época em que começou a ser construído, por volta de 1855, um mangue foi aterrado para dar lugar à praça. A praça do palácio como era chamada, no final da década, a rua larga da Praça do Palácio foi revestida de pedras calcárias, que ainda hoje sustentam nossos pés na história centenária de Aracaju Em 1911 e 1920 Aracaju já se impõe como maior centro urbano do Estado e a cidade mais industrializada de Sergipe, confirmando a visão política-administrativa de Ignácio Barbosa.
Aracaju, cidade moderna, quase não viu o desfilar das carruagens, carro de duas rodas e dois assentos, sem boléia, com capota, e tirado por um só animal. Logo em seguida, vieram os bondes puxados por dois burros e contendo cinco bancos. Já o bonde elétrico não tinha esse problema, no entanto, eram também demorados e, para quem estivesse com algum compromisso agendado, era preferível viajar de automóvel ou até mesmo a pé. Era um passeio maravilhoso para quem não estava com pressa, mas causava muita confusão por causa da demora, das encrencas e, às vezes, da falta de energia. No ano de 1934, no mês de agosto, Aracaju recebeu a visita do Presidente Getúlio Vargas que atravessou de automóvel e depois de bonde a Rua João Pessoa ao lado do interventor Augusto Maynard Gomes (1930-1935), atraindo várias pessoas para o centro comercial. Vale ressaltar que “o primeiro automóvel apareceu na cidade de Aracaju em 1913 e foi um Ford, cujo proprietário se chamava Arnou Coelho” (Cabral, 2002, p. 143). Mas eram os bondes, os ônibus e as lotações que faziam o transporte de passageiros; andavam cheios, com gente sentada, em pé, pendurada nos lados e atrás sobre o dorso do engate.



Segundo o historiador Amâncio Cardoso, pesquisador de monumentos históricos, a Praça do Palácio, hoje Praça Fausto Cardoso  porque ali foram colocados os primeiros pinos de demarcação da área a ser construída da cidade pelos engenheiros comandados pelo engenheiro Pirro.  Ainda segundo Amâncio, a Praça Fausto Cardoso por  ser o núcleo do nosso centro histórico. Foi ali onde tudo começou.
A praça Fausto Cardoso já foi palco de grandes eventos políticos e culturais. Até o início dos anos 90, era na praça que aconteciam os festejos juninos e o Carnaval. O pesquisador Luiz Antônio Barreto explica que a praça foi o pinhão de ordenamento do quadrado de Pirro, idéia do arquiteto que tomou como modelo um tabuleiro de xadrez para ordenar as ruas do Centro de Aracaju. Na época em que foi construída, a praça reunia praticamente todos os serviços públicos da Província: o palácio, algumas repartições e a Assembléia Provincial. Ainda hoje a praça abriga importantes instituições, como o Tribunal de Justiça de Sergipe, a Assembléia Legislativa e Miniaterio Publico Estadual.
Os  grandes acontecimentos que marcaram  a historia desta praça, começa com uma tragedia, a morte  de Fausto Cardoso, ocorrida há mais de 103 anos, no dia 28 de agosto de 1906, cobriu Sergipe de luto e tirou momentaneamente dos sergipanos a idéia de luta, de afirmação, de busca de unidade social para construir alternativas livres.
Agonizando na praça que depois recebeu o seu nome, cercado de amigos e admiradores, homens, mulheres e crianças que lotavam o centro da cidade, Fausto Cardoso transbordou-se e com ele a alma sergipana. Seu legado está na frase imortalizada com a sua morte: “A liberdade só se prepara na história, com o cimento do tempo e o sangue dos homens.” Na verdade, a frase é outra, e está contida no discurso que pronunciou em 9 de julho de 1902, e que ficou conhecido como Lei e Arbítrio: “A liberdade só se prepara na história com o sangue dos povos, o esforço dos homens, o cimento dos tempos. E se ela não é o preço de uma vitória, não é liberdade, será tolerância, favor, concessão, que podem ser cassados, sem resistência, que se revista do Poder. Não gera caracteres nem cria personalidade. Enerva, dissolve, abate, humilha, corrompe e transforma os povos em míseras sombras.” A ideia e o sentido da liberdade marcam a biografia de Fausto de Aguiar Cardoso.  
Assim é que em 1912 a Praça Fausto Cardoso recebe um monumento em homenagem a esse grande líder político, plantando-se novos jardins com dois coretos em estilo art-noveau, orgulho dos sergipanos que dali fizeram palco para retretas e manifestações cívicas. Outro monumento se ergue quatro anos depois, em 1916, na praça Olympio Campos com a estátua do Monsenhor, com um pequeno jardim em torno.

Mergulhamos nas lembranças do pesquisador Murillo Melins (2001) que sita em sua obra “Aracaju romantica que vi e vivi”
Meu coração se enche de saudades quando passo pela praça fauto Cardodo e recorda as grandes construções da sua época que hoje nao existe mais. 
Outra citação que a praça  já foi palco de grandes eventos políticos e culturais. Até o início dos anos 90, era na praça que aconteciam os festejos juninos e o Carnaval. O pesquisador Luiz Antônio Barreto explica que a praça foi o pinhão de ordenamento do quadrado de Pirro, idéia do arquiteto que tomou como modelo um tabuleiro de xadrez para ordenar as ruas do Centro de Aracaju. Na época em que foi construída, a praça reunia praticamente todos os serviços públicos da Província: o palácio, algumas repartições e a Assembléia Provincial.

Dentro da minha linha de pesquisa cito o discurso do interventor Augusto Maynard  emocionado pedindo ao povo de Sergipe que tenham calma, e relatando os acontecimentos da tragico do torpedeamento  dos navios brasileiros na costa sergipana.

Ainda nas lembraças de Murillo Melins, foi o linchamento do lider trabalhista Lídio Paixao, proximo à estátua de Fausto Cardoso. Em 1954, no dia 24 de agosto, Sergipe, como o resto do Brasil, amanheceu surpreso com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, As passeatas pelas ruas de Aracaju tinham destinos certos, antes de fazer concentração na praça Fausto Cardoso, centro de manifestações políticas.
A praça também foi palco dos grandes comícios, políticos que ainda hoje são lembrados com seus discursos eloquentes, como Jorge Amado, em 22 de dezembro de 1946. Plínio Salgado, Seixas Dória, Leandro Maciel, Maynard Gomes,  Getúlio Vargas, Eduardo Gomes, Carlos Prestes, este os jornais da época, 1947, anunciava que era a maior concentração política na história de Sergipe.” Todo o povo a praça fausto Cardoso” tinha como manchete principal o Jornal do povo em 4 de janeiro de 1947, o povo de Sergipe esperava ansiosamente ouvir “o cavaleiro da esperança”, assim como era chamado Carlos Prestes.

Também nesta praça em 11 de janeiro de 1947, Augusto Maynard em um grande comício, discursou e dando uma resposta a Carlos Prestes em um outro comício anterior a este nesta mesma praça. Este discurso ficou famoso até os dias de hoje com seu inicio narrativo, “Ainda uma vez o refrão...

”Os homes são como as montanhas. Vistas ao longe, belas, altaneiras, inexpugnáveis; de perto, que decepção!”.


Isso era como Maynard via o líder comunista, como um traidor da pátria, o povo de Sergipe ouviu do próprio Maynard  relatos do sobre o julgamento de Prestes como mentor intelectual da jovem Elza Fernandes, contando com detalhes como aconteceu o crime bárbaro.
Já no jornal de 04 de fevereiro de 1947 tinha como principal manchete, o discurso da integra do comício de 11 de janeiro na praça Fausto Cardoso, em primeira pagina Maynard dizia assim : DEVOTA-ME ODIO DE MORTE, PORQUE CUMPRI O MEU DEVER. Condenando-o Prestes como autor intelectual do mais bárbaro crime que já se praticou em terras do Brasil.

Maynard depois que deixou a Interventora do estado, e o comando do 28º BC, foi convidado pelo governo Vargas para assumir uma nova missão, fazer parte do quadro de juízes do tribunal de Segurança Nacional e no processo de Prestes, ele foi o relator do mesmo.




Hoje, a Praça Fausto Cardoso esta de cara nova, passou por uma grande reforma, mas foi preservado suas características históricas,  deixando na lembrança fatos que marcaram a vida política e cultural dos sergipanos, Lembramos ainda  das retretas, dos shows, dos desfiles de moda das mocinhas que saíram da missa, lembramos do relógio publico de  quatro faces como dia o memorialista Murillo Melins, é o que sente o historiador Adailton Andrade quando passa  pela praça, para, olha e  lembra  dos grandes acontecimentos relatados nos livros e artigos dos jornais.Viva a praça Fausto Cardoso !.





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Pesquisador, Licenciado em História, pós-graduado em Ensino Superior em História. Pós Graduado em Sociedade e Cultura Sergipana. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Membro na qualidade de pesquisador dos Grupos de Estudo e Pesquisa da UFS: Grupo de Estudos e Pesquisas em História das Mulheres (UFS / CNPq).GEMPS - Grupo de Estudos e Pesquisas em Memória e Patrimônio Sergipano. Professor da rede particular e Pública de ensino. adailton.andrade@bol.com.br / adailton66andrade@gmail.com fontesdahistoriadesergipe@bol.com.br

BIBLIOGRAFIA

CARNERIO, João Emanuel (Direção). A Chegada da Modernidade, 1920 / 1940. Argumento de Luis Paulo Conde. Apoio cultural Icatu: Rio de Janeiro, 1996, vídeo.

SEVCENKO, Nicolau. A Capital Irradiante: técnica, ritmos e ritos do Rio. In: NOVAIS, Fernando A.
(coord. Geral); SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da Vida privada no Brasil: república. Vol. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 513 - 619.
_________________. O Prelúdio Republicano, Astúcias da Ordem e Ilusões do Progresso. In:
NOVAIS, Fernando A. (coord. Geral); SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da Vida privada no Brasil:
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TEIXEIRA, Debora Maria Raison Alves. Ventos da Modernidade: os bondes e a cidade do Rio de
Janeiro - 1850/1880. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.

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Bibliografia
Textos de Luiz Antônio Barreto.
Entrevista a Agência Aracaju de Notícias (AAN)  com o professor de história do Cefet/SE), Amâncio Cardoso,
Murillo Melins - Aracaju Romântico que vi e vivi Fotos do blog de Osmario



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